quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Patrícia ... uma personagem

       Combinamos uma saída para beber e outras cositas más, nos encontramos e partimos para a imprevisível jornada. No bar, como de costume quando o grupo se reúne, muitas risadas acompanham a bebida e comentários filosóficos brotam por todos os lados.


       Em determinado momento, saímos todos para dar uma volta, havia uma cerimônia de iniciação a ser realizada. Uma amiga experimentaria, protegida pelo calor do restante do clã, um prazer ainda desconhecido. Saímos os sete, número cabalístico, mais a iniciada e o filhote de gato que uma das meninas havia encontrado em uma casa abandonada e resolvera trazer consigo, então, demos início à cerimônia, todos caminhando e, em nossas mãos, os copos de cerveja.


       Durante a cerimônia, alguém comenta “mas esse negócio era maior, acho que tu já usou, isso tá menor agora, risos” e penso “será possível, o cara ainda nem fumou e já tá viajando, esse troço deve ser muito bom mesmo”. Como diz a música, foi mais ou menos assim: ...acende, puxa, prende, passa..., em instantes a alegria era geral e facilmente constatada pelas risadas do grupo, que iniciava a viagem insólita.


       Uma de minhas constatações da noite foi: só quem já desfrutou dos prazeres de Mari Juana, é capaz de entender seus efeitos. E fiquei alguns momentos divagando se os estudiosos do assunto, alguma vez, teriam compartilhado da sensação que é algo de aprisionante e libertador, ao mesmo tempo. Mas, quem a conhece sabe que as divagações seguem rumos nem sempre coerentes e, muitas vezes, nos pegamos tentando descobrir como os pensamentos chegaram ao pensamento atual, como se quisesse estabelecer uma linha pela qual pudéssemos nos guiar. Óbvio, uma tentativa inútil, mas que ajuda passar o tempo e distrai, momentaneamente, da paranóia que se apodera da mente nesses momentos.


       Aliás, paranóia é a palavra chave dessas ocasiões. Temos a nítida impressão de que está escrito na testa: fumei. Sou normalmente escrava do relógio, e quando encontro com Mari isso se torna ainda pior, chego a consultar o relógio, em média, a cada três minutos com medo de perder o ônibus, com pânico de não conseguir chegar em casa, de não conseguir descer na parada certa, de dar muita bandeira, de falar merda.


       Em contrapartida, o que é muito interessante, é a consciência de tudo o que está acontecendo, ela continua lá, embora pareça que estamos fora do corpo, continuamos nele mesclando as posições em nossa história de narrador e personagem, fora e dentro de nosso corpo. Talvez, em situações normais, não nos apercebamos de detalhes que, em situações como esta, saltam aos olhos. Ouvi conversas interessantes enquanto esperava pelo ônibus, um babaca que se vangloriava para uma, como vou definir, sem noção, de já ter batido em mulher, dirigido bêbado e ainda andar pelas ruas à noite fingindo que iria atropelar quem encontra caminhando. Ah, fala sério!! O cara é um idiota e a não menos idiota achando tudo aquilo bonito, normal. Depois eu é que to muito doida.


       Teve um momento em que estava fumando na rua com uma amiga e ela começou a me dizer “escuta, ouvi um papo.....”, imediatamente pensei “puta merda, alguém descobriu ou tá desconfiado do meu rolo com...”. Mas não era!!! Esse foi um dos momentos em que me dei conta do tamanho da minha loucura. Ainda agora, em casa escrevendo confortavelmente vestida com uma calça de moleton velha, uma camiseta não menos, os cabelos presos de uma forma desleixada, sem esquecer os óculos, coisa de quem já tem 40 ou mais, depois de ter bebido quase todas, ter rido muito de quase tudo e, pra finalizar ainda vomitado os pés, sentada no cordão da calçada, é como se ainda estivesse sob o efeito da insólita viagem. A situação toda, naquele momento, me pareceu Bukowskiana. Fumamos, bebemos, vomitamos, viajamos ... mas tudo com muito, muito estilo. Saldo positivo. Mas, pensando bem, porque a necessidade de classificar ou pesar o valor da noite, se foi só mais uma, como tantas outras ... na vida de Patrícia.



2 comentários:

Thaís L. disse...

Bom escrever, guardar, reler e, depois de tudo isso, compartilhar com o mundo, né?

Kátia Moller disse...

Oooooo, se é!!!

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