sábado, 21 de abril de 2012


O imperador queixou-se !
       A corte pôs-se, imediatamente, em polvorosa, e no burburinho que corria por todas as salas e corredores do palácio, uma única pergunta pairava no ar: O que, diabos, incomodava o soberano ?
       Seriam as acomodações reais, estaria o desjejum do regente sendo servido a seu gosto ? Talvez alguma das iguarias tão esmeradamente preparadas pela cozinheira não houvesse lhe caído bem, conjecturavam alguns. Ainda havia a possibilidade de seu travesseiro de penas não estar lhe trazendo bons sonhos, imaginavam outros. Ou, pior ainda, sua Domitila não estaria lhe satisfazendo as vontades. Hipótese imediatamente afastada por todos, afinal, um mesmo desejo consumia a ambos. Os jardins !!!  Só poderia ser esta a causa da queixa, não estariam sendo bem cuidados pelos relapsos jardineiros. Mas que maçada !  Perturbar a tranquilidade do rei por motivo tão trivial. Então surge nova onda de rumores, aparentemente nenhum dos motivos aventados inicialmente aproximava-se da real demanda, e a onda é substituída por outra e elas sucedem-se, infinitamente.
       O que seu fiel séquito jamais viria a saber, até porque nunca entenderiam, é que faltava-lhe uma rima. Tanto barulho por uma rima ??? Mas, os encantadores olhos de anzol do sujeito que era o senhor de todos os apetites de Domitila, necessitava de um predicado ou de um complemento verbal, quiçá um advérbio de intensidade.
       Porém, havia algo mais a apoquentar-lhe o juízo: haviam trocado seu nome, alguém, em algum momento que não se sabe precisar, havia trocado seu nome. O motivo da troca ? Improvável que fosse devido a uma desatenção ou lapso de memória. A hipótese mais plausível, aliás, a única aceitável seria – e então nesse momento, surge um novo elemento para compor a trama – a de que, temendo alguma conspiração tenha-se, por puro desvelo, criado um codinome no afã de protegê-lo de uma possível, mas invisível ameaça.
       Passada a desordem causada no Paço por aquele real desassossego, o Dom já não precisava assinar documentos ou missivas usando seu codinome. O que talvez ele não soubesse, e então fazia-se necessário esclarecê-lo, é que aquela havia sido uma forma de proteção, um excesso de cuidado por parte de quem não se importava que se chamasse Pedro, João, Joaquim, ou até mesmo Raimundo,  um homem ... a caminhar por esse vasto mundo ...

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