domingo, 29 de janeiro de 2012

       Faltavam exatamente 21 dias para que o ano acabasse, diferente daquela relação que me aprisionava. Ela, a relação, já havia acabado, esgotado todas as suas possibilidades há muito tempo, tanto tempo que nem saberia precisar exatamente. Talvez tenha terminado mesmo antes do início, se é que houve um. Hoje tudo me parece muito confuso, até minha decisão anos atrás de tomar, racionalmente, e foi exatamente isso: racional, totalmente desprovida de paixão, a decisão de unir minha vida a de outra pessoa.

       Constatar que talvez a única decisão totalmente racional que tomei em minha vida tenha me levado a um limbo, onde fiquei por 18 longos anos, em que me esforcei para que desse certo, em que depositei sonhos, expectativas e construí uma zona de conforto onde me escondi do meu próprio olhar, não me leva a pensar que fracassei ou fracassamos na relação, mas que, realmente, necessitava desse aprendizado. Na mala que trago dessa viagem insólita, não há lugar pra ressentimentos ou mágoas, não, quero tudo novo inclusive eu, eu nova, insegura, com medo, apavorada com esse novo mundo que se apresenta aos meus olhos e sentidos.

       Abandonar a zona de conforto, a princípio, não me pareceu tão assustador como tem se mostrado ser. Mas essa necessidade de arriscar, de surpreender-se a cada dia, de não ter certezas absolutas ou garantias de nada é que faz com que muitos abram mão de uma rotina estabelecida e totalmente previsível. O que não torna essa jornada tão assustadora menos necessária, tão vital para entender que deixar que o medo paralise pode ser a melhor maneira de se virar um  mero expectador da vida.

        Expectador no sentido de ser aquele que guarda as melhores roupas pra uma festa que nem sabe se vai ser convidado, economiza palavras para um discurso que nem sabe se terá oportunidade de fazer, e seus melhores sentimentos para um amor se nem sabe se vai viver. O expectador, em sua ânsia por colecionar certezas,  le livros escritos e protagonizados por outros, alimenta-se do que os protagonistas comem, mas sem realmente sentir o sabor do que é servido, sem ter a menor participação sobre o roteiro de seu próprio destino.

       O protagonista, ao contrário do outro, não vive a mansidão dos dias e rituais diários previsíveis, pelo menos nem sempre. Ele não vive anestesiado, prefere sentir as dores na carne, com os olhos bem abertos e o coração aos saltos, ele assume a autoria de seu discurso e suas conseqüências, sem esconder-se atrás das fórmulas prontas.  Não há só glórias na vida do protagonista, ao contrário, as perdas e os danos causados por estas é que trazem todo o glamour a esse papel, importantíssimo.

       O glamour de que só quem tem a coragem de sair em busca do desconhecido, do improvável, tem o prazer de desfrutar e, ainda assim, nem nos piores momentos de solidão, nem por um segundo sequer se arrepende de ter se decidido a descobrir a dor e a delícia de ser quem é, apesar do gosto amargo que isso possa trazer.

1 comentários:

Thaís L. disse...

"economiza palavras para um discurso que nem sabe se terá oportunidade de fazer, e seus melhores sentimentos para um amor se nem sabe se vai viver."

geninha!

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