quinta-feira, 20 de setembro de 2012




A (des)coragem do imperador e o (des)encanto da suspiradora.

 

       Ele admitiu a falta de coragem, ela tirou da renda da manga do delicado vestido, um discurso que versava sobre intensidade de sentimentos, dores e angústias. Talvez tenha sido assim ... ou não, talvez ela tenha sentido os olhos dele sobre si e resolvido que aquele era o momento adequado – se é que havia momentos ou locais adequados – de, no melhor estilo “escuta aqui”, dizer-lhe umas boas.

       O imperador, aquele ser que caminha pela névoa, carregando sobre os ombros o peso de suas escolhas, talvez acredite não ter direito a doses, ainda que homeopáticas, de prazeres mundanos e enlevos poéticos. Haverá espaço em sua pragmática existência, para os mesmos devaneios que povoam o imaginário masculino? Não há como negar, palavras do próprio protagonista, o que o corpo claramente manifesta, tampouco o que lhe sai pelos olhos como fumaça esvaindo-se de algo que queima. E queima como a chama que por tantas vezes se tentou apagar ... inutilmente, vãs tentativas ...

       A Suspiradora, metida a entendedora, já tentara analisar os motivos que o levavam a caminhar pela névoa, se a solidão, em meio à multidão, seria uma opção ... quiçá. Para mostrar-se aos olhos ávidos por uma aparição sua, que conferisse aos súditos a segurança de uma imagem sólida ... e ... só ...

Ela conjecturava sobre onde andariam a ousadia que perpassara aquele olhar quando por entre frestas, os intertextos presentes nas mensagens, os significados semi-ocultos nas entrelinhas e todos os sentidos pelos quais tantas reticências foram habitadas.

       Havia nessa relação(?), tal como no discurso sacado da manga, intensidade(!). Uma intensidade inerente à Suspiradora, que só sabia sentir se fosse assim, espontâneo, transparente, avassalador, intelectualmente físico e fisicamente intelectual, sem prescindir de delicadeza. Céticos duvidariam, cientistas explicariam pelo viés da sinapse, astrólogos pela combinação astral, esotéricos por forças ocultas, historiadores pela tradição cultural do ocidente .... e, em algum momento, certamente apareceria um adepto de alguma teoria da conspiração, afinal, o futuro do império poderia correr algum risco iminente.

       Entre exclamações (dela), suplantadas pelas interrogações (dele), algumas linhas ou páginas por escrever ... ou ... simplesmente virar. O que foge a dicionários e regulamentos vários, como não lembrar Drummond, é o (des)encanto da suspiradora ... e a (des)coragem do imperador.

2 comentários:

Rovian disse...

Escrita perfeita...

Surian Seidl disse...

Com o privilégio de poder ter olhos para devorar cada palavra...

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