... A janela ...
Ao caminhar pelo Paço, inevitável era
não voltar seus olhos à janela, a mesma que por tanto tempo foi garantia da
presença dele. Um vidro aberto e uma luz acesa diziam-lhe, com toda certeza,
que havia alguém ali, que talvez em alguns minutos estivesse caminhando por
entre os passantes ou pela névoa, se houvesse.
Durante uma semana ela havia contemplado
os vidros, a cortina, ambos fechados, além da falta de luz. Fazia-lhe falta não
a luz que, porventura, seria gerada por alguma vela ou mesmo uma lamparina ...
mas a luz vinda daquele olhar. A suspiradora diria-lhe, caso houvesse
oportunidade, ”Senti na pele a falta dos teus olhos.” – frase que viera-lhe à
cabeça ainda naquela manhã e que ela, anotou com letra apressada, para não
fugir-lhe a ideia.
O
(des)encanto havia se abrandado, a (des)coragem já não apresentava cores tão
vivas como há algum tempo atrás, como em tantas outras oportunidades, a
tentativa de colocar um ponto final havia sido infrutífera. Ao ponto que seria
o final, agregava-se como em tantas outras vezes, dois pontos, formando então
mais reticências. Ah ... as reticências ... Que acompanhadas dos demais sinais
de pontuação eram, com o perdão do trocadilho, o ponto alto da história.
Estivera, o imperador, “fora do ar”. Mas
não do mundo e, nunca, fora dela, a suspiradora. Que quando já não mais esperava
por uma resposta, e que tinha visto, em si, diminuir senão quase desaparecer o
prazer e a necessidade de, cuidadosamente, amealhar palavras, sentiu renovada a
inspiração ao ler a resposta que veio bater-lhe à porta. Na verdade, ela precisou
suspirar alguma prosa para elaborar o acontecido anteriormente, recorreu aos
versos de Drummond e suas “Sem-razões” e decidiu-se por compartilhar a narração
do episódio com aquele que o tinha vivido. E veio a resposta, a resposta da
resposta, a réplica, e a tréplica (seria uma necessidade dela ter a última
palavra? Ou seria aquela a tréplica adiada/evitada há quase doze meses, por
receio de forçar uma resposta? Não nos cabe questionar ...).
Conjecturas, faltas de inspiração, (des)coragens
e (des)encantos à parte – não há nessa conclusão, absolutamente, nenhum queixume,
apenas uma constatação e a volta da desejada, e agora festejada, inspiração -,
passou pelos olhos da observadora suspirante uma sombra, não de alguma luz ou
do vento empurrando a cortina, mas de uma (in)explicada tristeza ... ao olhar
... e não ver ...
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