A (des)coragem do imperador e o (des)encanto da suspiradora.
Ele admitiu a falta de coragem, ela tirou
da renda da manga do delicado vestido, um discurso que versava sobre
intensidade de sentimentos, dores e angústias. Talvez tenha sido assim ... ou
não, talvez ela tenha sentido os olhos dele sobre si e resolvido que aquele era
o momento adequado – se é que havia momentos ou locais adequados – de, no
melhor estilo “escuta aqui”, dizer-lhe umas boas.
O imperador, aquele ser que caminha pela
névoa, carregando sobre os ombros o peso de suas escolhas, talvez acredite não
ter direito a doses, ainda que homeopáticas, de prazeres mundanos e enlevos
poéticos. Haverá espaço em sua pragmática existência, para os mesmos devaneios
que povoam o imaginário masculino? Não há como negar, palavras do próprio
protagonista, o que o corpo claramente manifesta, tampouco o que lhe sai pelos
olhos como fumaça esvaindo-se de algo que queima. E queima como a chama que por
tantas vezes se tentou apagar ... inutilmente, vãs tentativas ...
A Suspiradora, metida a
entendedora, já tentara analisar os motivos que o levavam a caminhar pela
névoa, se a solidão, em meio à multidão, seria uma opção ... quiçá. Para
mostrar-se aos olhos ávidos por uma aparição sua, que conferisse aos súditos a
segurança de uma imagem sólida ... e ... só ...
Ela conjecturava sobre onde
andariam a ousadia que perpassara aquele olhar quando por entre frestas, os
intertextos presentes nas mensagens, os significados semi-ocultos nas
entrelinhas e todos os sentidos pelos quais tantas reticências foram habitadas.
Havia nessa relação(?), tal como no
discurso sacado da manga, intensidade(!). Uma intensidade inerente à
Suspiradora, que só sabia sentir se fosse assim, espontâneo, transparente, avassalador,
intelectualmente físico e fisicamente intelectual, sem prescindir de
delicadeza. Céticos duvidariam, cientistas explicariam pelo viés da sinapse,
astrólogos pela combinação astral, esotéricos por forças ocultas, historiadores
pela tradição cultural do ocidente .... e, em algum momento, certamente
apareceria um adepto de alguma teoria da conspiração, afinal, o futuro do
império poderia correr algum risco iminente.
Entre exclamações (dela), suplantadas
pelas interrogações (dele), algumas linhas ou páginas por escrever ... ou ...
simplesmente virar. O que foge a dicionários e regulamentos vários, como não
lembrar Drummond, é o (des)encanto da suspiradora ... e a (des)coragem do
imperador.
2 comentários:
Escrita perfeita...
Com o privilégio de poder ter olhos para devorar cada palavra...
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