A nova queixa do imperador
O imperador voltou a queixar-se !
E uma queixa de tal criatura, desacomoda a quem quer que lhe esteja
próximo. A vida de imperador é por demais laboriosa, em meio a tantas
audiências, e queixas alheias. Em sua agenda diária estavam convites para
bailes da corte, compromissos diplomáticos, almoços e ceias obedecendo a um
rígido protocolo estabelecido, colóquios nem sempre agradáveis dos quais
participavam duques, arquiduques e marqueses. Os últimos, de particular importância,
pela localização de suas terras às margens do império, garantia de vigilância e
proteção às fronteiras. Afora isso, atender aos ávidos por ter concedidos
títulos de nobreza. Mas suas atribuições não costumavam causar-lhe dissabor,
atendia à nobreza e ao profanus vulgus
com igual deferência.
Era tarde, quase noite,
quando do encontro. Ele, o imperador, sério, muito sério, havia quase dureza em
seu olhar. Ela, a suspiradora de versos, caminhou em sua direção sorrindo, como
de hábito - o encontro e a possibilidade daquele esperado abraço, eram sempre
motivo de gozo. E foi depois do abraço, singularmente plural, que ele também
sorriu. Olharam-se, conversaram, mediram-se, desejaram-se ... e ele, então,
queixou-se. A interlocutora nada disse, se dissesse, seria com as mãos,
tocando-lhe o rosto, afagando.
Insensível a olhar pro
próprio umbigo, no momento da queixa, ela não deu-se conta imediatamente da
gravidade do incômodo. Depois, sozinha, ao lembrar daqueles olhos, da seriedade
que havia encontrado em seu semblante enquanto caminhava sorridente em sua
direção foi que deu-se conta da
intensidade do desagrado. Não bastasse
sua insensibilidade, ainda pedira-lhe algo que, naquele momento, era
impraticável. Ah as mulheres e suas necessidades, sempre urgentes !!
Dito isso, este narrador
de pretensões oniscientes tem a acrescentar, que o homem atrás do título é
exatamente isso: um homem. E que, embora atenda de forma irretocável às suas
responsabilidades, tem a prerrogativa de, por vezes, desejar não estar onde
está, ou não ser quem é. Sobre a mulher, este que conta a história, entende sua
natureza passional e o rebuliço que os olhos de anzol causam em seus sentidos,
transtornam-lhe, despertam-lhe apetites. Sabe do quanto importam a ela os
sentimentos dele, que preocupa-a vê-lo cansado, desanimado, desencantado; do
prazer com que ela cria e envia-lhe versos, diariamente, como afagos.
Frente a frente, aquela mulher diria
àquele homem, longe dos olhos e ouvidos curiosos da corte e de todas as
demandas que o exigiam: Ah, imperador, meu imperador ... pra ti meus versos,
meus suspiros, meus beijos, meus olhos, meus braços e abraços ... Porque ... de ti ... só
quero ... mesmo ... a ti !!
1 comentários:
se fosse escrever sobre cada suspiro que leio aqui,suspiraria antes,longamente...como quem ama.
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